10.02.2007

Infância

Este tema pode ser abordado em grande grupo ou, por outro lado pode ser abordado em pequenos grupos e depois debatidas as conclusões em grande grupo.
Seguem-se vários textos relativos à fase da infância, bem como questões para a exploração dos mesmos.
Os textos aqui apresentados podem ser utilizados nas reflexões de grupo e divulgados em actividades nas comunidades com o objectivo de intervenção social. (por exemplo em reuniões de pais, encontros com famílias, etc.)
Texto 1: Uma Criança Retardada

Todas as vezes que alguma mãe me fala dos problemas que os seus filhos têm nos estudos lembro-me do caso de Albert Einstein. O maior génio científico do séc. XX.
Ele foi um desastre nos seus primeiros estudos. Mais: foi, nos anos iniciais, o que se chama uma criança retardada, de tal modo que os seus pais chegaram a temer que se tratasse de um deficiente mental.
Aos três ainda não sabia falar. Conhecia apenas quatro ou cinco palavras e, mesmo antes, dizia-as com dificuldade.
É certo que bem depressa recuperou este atraso e aos seis anos começou a apresentar-se uma criança normal. Mas agora o obstáculo era a sua invencível timidez. A empregada da casa dos seus pais chamava-lhe “menino aborrecido” porque passava os dias inteiros sem dizer uma palavra.
Na escola as coisas não foram melhores: jamais se distinguiu pelas notas, nem foi especialmente simpático. Nunca foi o primeiro da classe e só aos quinze anos é que se acendeu a luz que trazia na alma.
E o resto? Foi feito pela coragem, pelo trabalho, pelo esforço. Hoje todos o chamam “génio”.

(José Luis Martín Descalzo, Razões para Viver)
Para reflectir:
- De que forma a timidez e algumas lacunas na aprendizagem inicial podem influenciar a vida de um seu humano?
- Que meios, com ajuda de quem e como podem ser ultrapassadas esse tipo de barreiras?

Para agir:
- Marcar um encontro com crianças com deficiências, por exemplo numa CERCI, e procurar (conhecendo as suas necessidades e interesses) realizar actividade que evidenciem as suas potencialidades e gostos.



Texto 2: Das crianças

“Depois, uma mulher que trazia ao colo uma criança, disse: Fala-nos das crianças.
E ele respondeu: Os vossos filhos não são filhos. São os filhos e filhas da nostalgia da vida por si mesma.
Eles vêm por meio de vós mas não de vós, e, apesar de estarem convosco, não vos pertencem.
Podeis dar-lhes o vosso amor, mas não as vossas ideias.
Podeis abrigar os seus corpos mas não as suas almas, pois as suas almas habitam nas moradas do amanhã que nem nos vossos sonhos podeis visitar.
Podeis esforçar-vos para vos tornardes como eles, mas não procureis torná-los como vós. Pois a vida não vive no passado nem no ontem se detém.
Vós sois os arcos de onde, como flechas vivas, os vossos filhos serão lançados. O arqueiro vê a força para que as suas flechas partam ligeiras e cheguem longe. Que a vossa inflexão na mão do arqueiro se destine à alegria; pois tal como ele ama a flecha que voa, também ama o arco que é estável.

(KHALIL GIBRAN in O Profeta )
Para reflectir:
- Será que nos sentimos, na infância ou agora, como estes filhos que o autor identifica?
- O que pensas sobre cada uma das frases começadas por «Podeis…»?
- Quem é o arqueiro, o arco e as flechas? Em que aspectos concordas/discordas desta metáfora?

Para agir:
- Preparar e realizar um encontro com pais, partir do texto para uma reflexão e partilha sobre a educação e as expectativas dos pais em relação às crianças. Fazer possíveis comparações com textos bíblicos

Texto 3: Papá, escuta

Presta atenção ao que o teu filho te quer dizer, mas não se atreve:
- Não me dês tudo o que eu te pedir. Muitas vezes só peço, para ver quanto posso receber. Se mo deres, eu terei mais, mas não serei melhor.
- Não me dês sempre ordens. Se, em vez de me mandares, me pedires as coisas por favor, eu farei mais rapidamente e com mais vontade.
- Não mudes de opinião tão frequentemente sobre o que devo fazer. Decide-te e mantém essa decisão. No meio das minhas muitas vacilações, necessito da tua segurança, da tua firmeza.
- Cumpre as promessas, boas ou más. Se me prometeres uma autorização, dá-ma; mas também se for um castigo. Assim, eu preparar-me-ei melhor para a vida.
- Não me compares com ninguém. Nem com o meu irmão nem com a minha irmã. Se me exaltas acima dos outros, alguém irá sofrer; se me rebaixas diante dos outros, serei eu quem sofro. Nem me compares contigo quando tinhas a minha idade. As nossas vidas são muito diferentes.
- Não me corrijas as faltas diante de ninguém. Ensina-me a corrigir-me quando estivermos sós. Agradecer-te-ei infinitamente.
- Deixa-me fazer as coisas por mim mesmo. Mesmo que às vezes me engane. Se fazes tudo por mim, eu nunca poderei aprender.
- Não me grites. Respeito-te menos quando o fazes e ensinas-me a gritar também. Eu não quero fazê-lo.
- Quando fizer alguma coisa mal, não me exijas que te diga porque o fiz. Às vezes nem eu mesmo sei.
- Não digas mentiras diante de mim. Nem me peças que as diga por ti, mesmo que seja para te desenrascar. Sinto-me muito mal, e acho que perco a fé no que dizes.
- Quando estiveres enganado nalguma coisa, admite-o. Assim crescerá a opinião que tenho de ti. E ensinar-me-ás a admitir os meus equívocos.
- Quando te contar um problema meu, não digas: “Não tenho tempo para as tuas parvoíces”. Ou “isso não tem importância”. Trata de compreender-me e ajudar-me.
- Trata-me com a mesma cordialidade e amabilidade com que tratas os teus amigos. Porque somos família, não quer dizer que não possamos ser amigos também.
- Não me digas que faça uma coisa, se tu mesmo não a fazes. Assim aprenderei eu a fazer sempre o que tu fazes mesmo sem o dizer, mas nunca o que tu dizes e não fazes.
- .....

(José Luis Martín Descalzo, Razões para Viver)

Para reflectir:
- Na infância, alguma vez sentiste na pele alguma destas interjeições que o filho faz? Se, na altura não reconheceste nenhuma, agora, fazendo uma retrospectiva, parece-te que alguma se aplica às tuas vivências?
- Quais destas interpelações te parecem mais comuns? Mais graves? Que possam interferir mais na vida de alguém?

Para agir:
- Procurar convidar alguém especializado em Psicologia (ou áreas semelhantes), procurando tornar mais claro, com exemplos concretos de desvios de personalidade provocados por «erros educativos» para falar sobre os assunto.


Texto 4: Reflexão

«A liberdade de ser criança acompanha-nos a vida inteira, mesmo quando adultos e até velhos. A alegria e a beleza de viver são factores da infância que ajudam a prolongar a vida não envelhece. Nunca é tarde de mais para se ter uma infância feliz.»

(Al Stevens, Pérolas de Sabedoria)
Para reflectir:
- Que comentários merece na tua perspectiva, esta reflexão?

Para agir:
- Fazer e expor cartazes que despertem recordações da infância; que sejam divertidos; que provoquem alegria; que façam sentir-se crianças quem os vê.

Texto 5: A solidão das crianças

Numa emissora de rádio que costuma deixar linha aberta para intervenções dos ouvintes, ouvi há dias uma mensagem comovedora. Era uma voz tímida e trémula que dizia: «Sou Luci, tenho cinco anos e quero falar contigo porque os meus pais vão separar-se e não fazem caso quando quero falar com eles. No colégio não quero contar isso e não sei com quem falar. Digo-o a ti; assim, ao menos, já falei com alguém”.
Pode narrar-se com menos palavras uma solidão tão profunda? O mundo está, certamente, cheio de pessoas solitárias. Mas pergunto-me se temos consciência de que a solidão das solidões é a que afecta milhares de crianças no mundo entre os cinco e os dez anos.
Inventámos uma ideia romântica – verdadeira, em muitos casos, felizmente – de que as crianças são todas felizes, vivem fora do mundo, não se inteiram da sua dor. Vemo-las nas suas brincadeiras, escondidas atrás dos seus sorrisos e nem suspeitamos que podem esconder dores vivíssimas e solidões intermináveis.
Poucos são os adultos que reconhecem que uma das suas primeiras obrigações é falar com os seus filhos. Não, - pensamos – as crianças, nada têm a dizer, nada a perguntar; que brinquem, que se distraiam, que nos deixem em paz. È mais fácil, certamente, impingir-lhes o televisor e pôr-lhes um vídeo de desenhos animados que sentar-se a falar com elas, dar-lhes essa possibilidade, reconhecer essa necessidade que têm de conversar connosco. Acabarão um dia falando com uma máquina, porque, ao menos, “falaram com alguém”.
Num mundo como o de hoje, que parece feliz em mostrar a maldade – basta ver um telejornal ou ler uma revista – e que parece ter esquecido, como coisa ultrapassada, a necessidade de proteger as crianças, quantas estarão a viver aos cincos anos essa cruel dor da solidão, do desencanto frente àqueles que mais as deveriam amar? E que resta a um mundo que perdeu o respeito pela dor das crianças? Maranon assegura que “o adulto deve ter diante da criança, por menor que seja, o mesmo respeito que teria diante de Deus”. Infelizmente, hoje parece que não abunda o respeito por Deus nem preocupação pelo dano que os nossos gestos e palavras possam fazer às crianças que nos cercam. São tão pequenas que nem contam; são utilizadas até como mercadoria ao serviço do egoísmo dos adultos.
(José Luis Martín Descalzo, Razões para Viver)
Para reflectir:
- O que pensas sobre a evolução deste fenómeno da «solidão infantil» nos dias de hoje? Quais são os motivos? Quais são as soluções?

Para agir:
- Fazer um levantamento da situação familiar das crianças da catequese. Verificar se esta situação é evidente nalguma criança, observando directamente a(s) criança(s) e procurando traços emocionais (tristeza, isolamento, etc.) procurando escutá-la(s) se precisarem de ser(em) ouvida(s) e procurando mostrar-lhe que não está(ão) sozinha(s).



Outras sugestões:
- Preparar teatros, canções, jogos para realizar / apresentar a grupos de crianças;
- Fazer visitas a instituições com crianças (apresentar dinâmicas ou apresentações preparadas);
- Participar/Organizar campanhas de angariação de fundos, brinquedos, alimentos, roupas, medicamentos, etc. com vista a ajudar crianças.
- Expor cartazes com os direitos das crianças (Existem edições da UNICEF)
- Preparar uma festa para as crianças da catequese (Festa de Natal, Carnaval, Dia da Criança, por exemplo…)
- Fazer entrevistas às crianças (gravações áudio, filme ou registo escrito) sobre um tema e reunir dados e fazer montagens sobre a perspectiva das crianças sobre esse tema;

(Temas desenvolvidos por Dulce Almeida, Paróquia de Valadares, Delegada Vicarial de Gaia 1)